Serviço de Referência remoto não é novidade

Percebo uma comoção em muitos colegas ao falarem do recente boom de atividades de referência realizadas de maneira remota. De fato, essas atividades tem se ampliado de modo consistente em anos recentes. Além disso, o contexto que temos enfrentado nos últimos 12 meses também acabou por fazer com que os profissionais, alguns até então bastante resistentes ao uso de chat, vídeo chamadas e mídias sociais etc., desembarcassem nesses e em outros ambientes a fim de seguirem atuando junto a suas comunidades. Antes tarde do que mais tarde.

Porém, como costuma acontecer sempre que alguma novidade sacoleja as rotinas da Biblioteconomia, todas essas mudanças tem feito parte de nós nos esquecermos que o Serviço de Referência realizado de maneira remota não surgiu agora. Essa é uma prática de, pelo menos, 40 anos e que já se apoiou em muitas tecnologias diferentes.

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Origens conceituais do Serviço de Referência

Uma das mais antigas definições de Serviço de Referência (SR) é a da bibliotecária Alice Bertha Kroeger que definia o SR como sendo “parte administrativa da biblioteca, que dizia respeito à assistência aos leitores no uso das fontes da biblioteca” (KROEGER, 1908, p. IX, tradução minha). Um tanto reducionista, não acham?

Essa e outras definições do SR refletem o cenário que deu origem a esse tipo de atividade. Afinal, ela surgiu para ajudar as pessoas que iam até as bibliotecas na consulta do catálogo, pois esses instrumentos eram difíceis de manusear. Sobre a estrutura dos catálogos de biblioteca no período de transição do século XIX pro XX sabemos que eles se caracterizavam enquanto “[…] inventários de coleções (como livros de tombo), em geral organizados em códices, ou seja, na forma de livro (DOTTA ORTEGA, 2010, p. 4). Consultar esses livros de tombo era moroso e requeria certo grau de expertise técnica para garantir que nenhuma obra útil passasse desapercebida.

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O Serviço de Referência precisa ser ativo

Pensar sobre o Serviço de Referência (SR) é abrir as portas para o sonho. E, como ultimamente sonhar tem sido algo tão difícil, quase anárquico, é bom a gente poder falar sobre os sonhos, as ideias, os planos.

Antes de mais nada, é importante entendermos que o SR sempre esteve associado a inovação e pioneirismo, a mudanças estruturais nas bibliotecas e, por extensão, na Biblioteconomia. Um exemplo disso é o fato de que uma das primeiras divisões da American Library Association (ALA), criada em 1889, ter sido formada por profissionais que atuavam no setor de referência das bibliotecas.

Óbvio que o contexto social impacta o SR e que, sendo ele dinâmico, sempre estão ocorrendo transformações em suas práticas. Até porque, por ser um serviço, ele acaba sendo mais maleável e adaptável do que os produtos informacionais. Mas se é assim, por quais razões ainda tratamos o SR como algo passivo e que consiste, basicamente, em esperar?

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Trecho do livro Reference Service, de Ranganathan

Nota

O breviário de hoje é um trechinho de um livro que fala sobre serviço de referência. Nessa citação, Ranganathan diz quais são os cinco métodos que devem dar suporte a formação de um bibliotecário de referência.

“O serviço de referência não pode ser aprendido meramente ouvindo palestras ou lendo livros sobre ele. Ambos os métodos são necessários; mas eles próprios não são suficientes. Os estudantes e os professores devem adotar o método quíntuplo de:
[Período como] Aprendiz ou método clínico;
Realização de leituras [acadêmicas];
Método prático;
Trabalho preparatório com materiais de referência; e
Discussão.
Esses cinco métodos terão que ser cuidadosamente ajustados em relação ao tempo.” (RANGANATHAN, 1961, p. 46, tradução minha).

REFERÊNCIA

RANGANATHAN, Shiyali Ramamrita. Reference Service. Bombaim: Asia Publishing House, 1961. Disponível em: <http://arizona.openrepository.com/arizona/handle/10150/106346> Acesso em: 20 out. 2018.

Eu, bibliotecária de referência

Quando eu estava na graduação atuar no setor de referência não era um dos meus “sonhos”. Eu não me imaginava fazendo o que faço hoje. Quando comecei a trabalhar, tanto em outros locais quanto no meu atual emprego, atuava no processo técnico. Ainda desenvolvo algumas ações nesse setor, inclusive. Sempre me via como alguém 110% bastidores, nunca na vida que eu, Izabel, ia ficar na frente de uma turma de metodologia apresentando um treinamento. Bem…

Obviamente, a vida resolveu que eu estava errada. Ou quase isso. Comecei aos poucos a me envolver nas atividades do setor de referência. Ajudar a administrar a fanpage e o blog (amo blogs!) da biblioteca? Posso sim. Aconteceu um imprevisto e não tem outro bibliotecário para acompanhar a visita guiada? Ok, eu consigo fazer isso. Dúvida de normalização? Senta aqui, vamos conversar.

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Tão bonitinha falando de Normalização… Fonte: Nadsa Cid

Em resumo: fui me envolvendo com essas atividades e passando a gostar muito de realizá-las. Passando até a sugerir novas atividades. Fui de “não acho que a referência seja pra mim” para alguém que passa horas preparando tutoriais, treinamentos, eventos, alimentando mídias sociais. E no meio de todo esse processo descobri o quanto a referência e eu combinamos.

Atuar nesse setor requer curiosidade, criatividade, tenacidade, jogo de cintura, uma boa dose de sangue frio e espírito de aventura. Acho que é justamente isso que me faz gostar tanto dele. Nenhum dia de trabalho é igual ao outro e quando penso que já vi tudo aparece um usuário – desculpa galerinha que defende uso do termo “cliente”, mas vocês (ainda?) não me convenceram – que me surpreende de algum jeito.

Nem sempre é surpresa boa… Um dia conto pra vocês as histórias nada agradáveis que já encarei. Mas hoje vou focar na satisfação que é ver uma turma inteira elogiar seu trabalho; na alegria de receber recadinho dizendo que sua explicação fez diferença; que o tutorial que você elaborou, além de útil, é completo e inovador; que uma coisa que você realizou fez com que alguém olhasse com mais carinho e respeito para o trabalho da biblioteca… Pode parecer pouco, mas, particularmente, fico muito feliz quando descubro que meu trabalho faz a diferença. Afinal, se não é para fazer uma diferença positiva, que sentido teria ser bibliotecária?

Se você chegou aqui porque se pergunta se “você e a referência combinam” pode curtir ler esse texto aqui onde dou conselhos – não prometo que sejam bons – pra futuros bibliotecários de referência. Se já trabalha/trabalhou na referência conta pra mim o que você mais gosta (ou odeia) nesse setor.

Até breve! 🙂

 

Conselhos para futuros bibliotecários de referência

Se você olha para o Setor de Referência e pensa “será que isso aí é pra mim?”, então essa lista de conselhos é pra você.

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E aí, concorda com a citação? Fonte: Adaptado de Pixabay

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#BiblioTermos – Obras de Referência

Se você já frequentou alguma vez na sua vida uma biblioteca talvez tenha se deparado com as chamadas obras de referência. Talvez elas até estivessem guardadas num espaço diferente dos outros livros que integravam o acervo e você não pudesse pegá-las emprestado. Mas afinal, o que é uma obra de referência?

As obras de referência, também denominadas de documento de referência, livro de consulta, reference book, quick-reference books, reference material, reference source ou reference work, são definidas como “documento que fornece acesso rápido à informação ou às fontes de informação sobre um assunto […]” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 266). Essas obras são majoritariamente de consulta e visam, principalmente, sanar pequenas dúvidas e/ou remeter para obras que forneçam uma explicação mais detalhada acerca de um tópico. Continuar lendo

Biblioteca Pública: avaliação de serviços – Resenha

ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. Biblioteca Pública: avaliação de serviços. Londrina: Eduel, 2013.

 

No começo desse ano estabeleci para mim uma meta de leitura ambiciosa e um dos livros que integravam a lista de leitura era Biblioteca Pública: avaliação de serviços, do Oswaldo Francisco de Almeida Junior.

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Capa de “Biblioteca Pública: avaliação de serviços”

Já comentei aqui no blog que o primeiro livro de Biblioteconomia que li era uma obra do Almeida Junior e desde esse primeiro livro as ideias e a escrita elegante, firme e certeira dele me encantam. Gosto muito do modo como ele expõe as ideias e organiza o texto. Não fica uma ponta solta na argumentação. Quem sabe um dia eu chegue nesse nível.

Mas voltando ao livro em questão. O foco, como o próprio título indica, é a avaliação do serviço de referência no contexto das bibliotecas públicas brasileiras. Almeida Junior dedica toda primeira parte da obra a tratar da história, conceituação, importância e atividades relacionadas ao serviço de referência. Ele faz um amplo levantamento bibliográfico e discute cada ponto desse levantamento. Portanto, se você se interessa pela temática do serviço de referência a leitura de, ao menos, a primeira parte desse livro é quase que obrigatória. Continuar lendo

Serviço de referência: do presencial ao virtual – Resenha

ACCART, Jean-Philippe. Serviço de referência: do presencial ao virtual. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 2012.

Todo e qualquer serviço de informação só possui razão de existir na medida em que se esforça para conseguir atender as necessidades informacionais da sua comunidade de usuários. Nesse sentido, todos os setores de uma biblioteca, por exemplo, desempenham um papel fundamental. Desde a obtenção de recursos, passando pela seleção de materiais e pelos processos de representação, até o momento em que o documento é consultado e/ou emprestado, cada tarefa desempenhada pela equipe da biblioteca visa, em alguma instância, atender a essas necessidades.

Entretanto, de todas essas atividades, existe uma que lida mais diretamente com o atendimento das necessidades de informação: o serviço de referência. E como o próprio título indica é justamente esse setor e suas nuances o foco do livro “Serviço de referência: do presencial ao virtual”, de Jean-Philippe Accart. Continuar lendo

#BiblioTermos – Entrevista de Referência

A entrevista de referência, também conhecida como entrevista de busca e entrevista de consulta, é definida como sendo uma “conversa entre o usuário e o profissional da informação visando identificar a exata necessidade informacional e formular a estratégia de busca […]” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 152).

Geralmente, a entrevista de referência é o primeiro contato do usuário com um bibliotecário (ou outro profissional da informação). Lamy (1998 apud ACCART, 2012, p. 131) a define como sendo representante máxima da realização da própria função de referência. O fato é que, além de ajudar na definição dos termos de busca, ela é um importante meio para o estabelecimento de uma relação de confiança entre o usuário e a biblioteca. Continuar lendo