Os últimos anos viram um aumento na quantidade de obras que tem questões vinculadas a comunidade negra como norte. Exemplo disso são Mulheres negras na Biblioteconomia, Epistemologias negras: relações raciais na Biblioteconomia, dentre outras. Esses e outros trabalhos representam um significativo ganho qualitativo para a Biblioteconomia.
Apesar dos avanças ainda há muito que percorrer a fim de superar o peso de décadas de negligencia teórico-prática que ainda se fazem sentir na produção da área. Diante disso, é muito importante disseminarmos obras que contribuem para o fim dessa lacuna e uma dessas obras é o livro O negro na biblioteca: mediações da informação para construção da identidade negra, de Francilene Cardoso.

Nesse livro, oriundo de dissertação, a autora parte do contexto maranhense para discutir e apresentar alternativas que permitam que a história e cultura negra sejam incorporadas no contexto de atividades de mediação, especialmente a mediação de leitura, promovido pela biblioteca pública. Em um dos primeiros capítulos do livro ela relata o Projeto Consciência Negra realizado na Biblioteca infantojuvenil Viriato Corrêa. Esse projeto fez uso de música, dança, rodas de leitura e exposição para apresentar a cultura negra para crianças e adolescentes.
A discussão que Francilene Cardoso faz sobre a diferença entre memória e história é muito boa, porém meu ponto favorito da discussão teórica do livro são os tópicos sobre oralidade e como ela pode ser adotada pelas bibliotecas para construção de narrativas contra-hegemônicas e preservação e difusão da cultura negra. Gostei bastante do fato da autora ter trazido pesquisadoras/es da sociologia, história e psicologia para discutir oralidade no contexto da Biblioteconomia e da Ciência da Informação.
A discussão teórica da obra como um todo é bem elaborada e a autora constrói o texto de modo a facilitar o acompanhamento das ideias apresentadas.
Na terceira parte do livro, é apresentada uma proposta de desenvolvimento de coleções tendo por base o uso da oralidade. Achei a iniciativa ousada e com muito potencial para funcionar e ser adaptada em contextos para além do maranhense.
Uma das coisas que mais apreciei nesse livro é que desde o começo ele traz opções de ação para os/as bibliotecários/as. Desde o começo a autora tenta nos mostrar que é possível sim construir uma biblioteca viva e que colabore para a quebra de estereótipos racistas.
Ubuntu e até a próxima postagem! 🙂
Obrigada pela recomendação. Saludo desde Argentina.
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