Hoje, 7 de janeiro, é dia do/a leitor/a. E essa, sem sombra de dúvidas, é uma data importante para quem faz parte (e quer que cada vez mais pessoas façam parte) do universo do livro e da leitura.
Esse universo da leitura, para se caracterizar enquanto tal, precisa ser diverso nas obras literárias e artísticas que abriga. Para manter essa diversidade, vez por outra, bibliotecárias precisam encarar um obstáculo chamado: censura. E é sobre essa relação entre bibliotecas – bibliotecárias/os – censura que obra aqui resenhada trata.

#PraCegoVer: Fotografia preto e branco da cabeça de uma mulher de perfil. Ela está vendada.
Dividido em 8 capítulos, cada um deles com quantidade variável de subcapítulos, o livro Bibliotecas públicas, bibliotecários e censura na Era Vargas e Regime Militar, de autoria de Bárbara Leitão, traça um interessante (e ainda raro) panorama acerca dos impactos causados pelas práticas de censura realizadas em dois períodos recentes da história brasileira.
Por se tratar de obra derivada de tese defendida na Universidade de São Paulo, nos primeiros capítulos do livro a autora se dedica a explicar a metodologia adotada na pesquisa e as fontes por ela utilizadas para construção de referencial teórico e coleta de dados.
Um aspecto positivo do livro é que a autora fez um significativo apanhado de estratégias de censura adotadas por diferentes instituições (Estado, Igreja etc.) em variados momentos históricos e isso nos ajuda a perceber como a censura não é novidade e como ela pode assumir diferentes formas e adotar variados caminhos para se proliferar. Tratando especificamente de Brasil, deem uma boa olhada nos capítulos 4 e 5.
Por ter como recorte de pesquisa 2 períodos relativamente longos da história do Brasil, a autora também contempla em seu texto idas e vindas no que se refere a constituição da estrutura que tinha o objetivo de dar suporte a indústria da cultura, em especial aos espaços centrados nas políticas de promoção do livro e da leitura. Nos momentos em que ela trata disso é possível notar que desmobilizações de órgãos, privatizações e transferências são estratégias frequentemente adotadas para enfraquecer esse setor.
No capítulo 5, vale destacar ainda as falas de Briquet de Lemos e Gilda Verri que contribuem para entender como os/as profissionais de biblioteconomia se deparavam com a censura no seu dia a dia de trabalho. Quem se interessa pela história das editoras brasileiras também pode achar proveitosa a leitura desse capítulo.

#PraCegoVer: Montagem mostrando no lado esquerdo a capa do livro resenhado e no lado direito uma citação do livro. Na capa aparece uma pessoa olhando para uma estante com livros. A citação usada é “Por assumir um papel social, o bibliotecário não pode esquecer que sua responsabilidade é com a sociedade do passado, do presente e do futuro”.
No capítulo 6 a autora demonstra como práticas de biblioteconomia, quando realizadas de maneira inadequada, podem servir a censura de recursos informacionais. Acho esse capítulo particularmente útil para refletirmos criticamente acerca das posturas que adotamos quando realizamos tarefas cotidianas como a seleção de materiais, o serviço de referência e até a etiquetagem das obras. Pequenos atos, aparentemente inofensivos, podem fazer muita diferença na encontrabilidade (essa palavra existe?) de um material.
Nas considerações finais, a autora discute como as bibliotecas, ainda que indiretamente (aqui eu acho que não foi tão indiretamente assim), foram afetadas pelas práticas de censura existentes nos períodos analisados e conclui destacando como a criatividade é fundamental para superarmos as lacunas deixadas por esses traumas.
Essa obra é uma leitura indispensável para quem atua ou pretende atuar em bibliotecas públicas porque mostra algumas das vulnerabilidades e também potencialidades a que esse tipo de biblioteca está exposto. Além disso, independente do tipo de biblioteca de atuação, essa é uma leitura que oferece importantes acréscimos a formação dos/as bibliotecários/as, pois nos ajuda a enxergar além da técnica e dos discursos desmobilizantes.
Já conhecia essa obra? Me conta nos comentários. 🙂
Muito contente por saber que esse post te ajudou 🙂
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Caramba, eu fiquei muito feliz por conhecer esse livro. Não tinha ouvido falar, mas se encaixa perfeitamente em um desafio literário que estou fazendo parte. Justamente sobre ditadura. Vou colocar na minha lista de leitura pra já! Muito obrigada!
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Não é um livro tão famoso na área, mas é uma leitura indispensável pra quem se interessa pelos temas que autora discute nele
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Tenho interesse em assuntos que relacionam bibliotecas públicas e, não faz muito tempo, o livro Bibliotecas públicas, bibliotecários e censura na Era Vargas e Regime Militar apareceu na lista de interesse de leitura.
Pós essa resenha só confirma necessidade de leitura e reflexão. Obrigada! E, bom retorno!
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excelente texto e lembrança, querida Isabel!
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