Eis que finalmente chegamos a postagem mais aguardada, ao tema mais votado na eleição de aniversário, ao queridinho das multidões: Biblioteconomia e mídias sociais. Adianto que talvez – certeza absoluta, na verdade – este post não corresponda as expectativas de vocês.
Amo mídias sociais e sou uma entusiasta do uso dessas ferramentas pelas unidades de informação de uma maneira geral e pelas bibliotecas em particular. Acredito que estes espaços são ótimas oportunidades para ampliarmos a visibilidade e o alcance de nossas ações. E quando falo em alcance não estou pensando no número de likes, mas sim nas opções de serviços que podem ser criados fazendo uso dessas ferramentas.
Vocês repararam que eu falo “mídias sociais” e não “redes sociais”?
Faço isso porque redes sociais são grupos de pessoas que tem algum nível de relação e interesse mútuo, como exemplo podemos citar uma torcida organizada, colegas de profissão, o grupo de jovens de uma igreja e assim sucessivamente. Por seu turno, as mídias sociais são ferramentas online para permitir divulgação de conteúdo e algum nível de interação entre as pessoas, como exemplos temos Twitter, Google+, Snapchat, Tinder, Facebook e etc. Isso significa que toda mídia social é uma rede social, mas nem toda rede social será uma mídia social. Algumas pessoas, em busca de uma especificidade ainda maior, usam a expressão “mídias sociais digitais” para se referir a estas plataformas.
Outro ponto importante é lembrar que – apesar do Facebook buscar incessantemente englobar todas as funcionalidades possíveis e imagináveis – existem mídias sociais com objetivos / funções bem específicas e que, dependendo do que você deseja, pode ser interessante procurar uma dessas mídias. Por exemplo, se você procura compartilhar e acessar conteúdo acadêmico, ter um perfil no Mendeley ou no ResearchGate pode ser uma boa opção. Respeitar o foco de cada mídia é fundamental para aproveitá-la ao máximo.
Particularmente, fico chocada quando vejo profissionais da informação (sejam eles de que área for) espalhando desinformação, então, por favor, chequem as informações que vocês compartilham.
Pode parecer bobagem isso que estou falando, mas vamos a um [hipotético] exemplo: Você compartilha na fanpage da biblioteca a informação falsa de que “será pago um 14º salário para todos que preencherem um determinado formulário”. A partir do momento em que a biblioteca compartilha esse conteúdo ela está emprestado para a postagem seu respaldo, está partilhando sua credibilidade. Sua comunidade de usuários acredita que a biblioteca só posta materiais de qualidade, cujo conteúdo é verdadeiro e relevante, então se a biblioteca – ou melhor, se você, bibliotecário/a – compartilhou é porque o conteúdo é digno de confiança. Olhem o tamanho da responsabilidade!!!

Essa foto foi tirada durante a Women’s March que aconteceu em 21 de janeiro de 2017, em Washington, EUA. [Se souberem o nome do/a fotografo/a, me avisem].
Se você viu uma notícia bombástica daquelas que fazem sua mão coçar para compartilhar a primeira coisa a fazer é conferir esse conteúdo em outras fontes. Se uma empresa / instituição é citada confira nos canais oficiais de comunicação da mesma. Teste os links, confira as fontes citadas, confira o histórico do veículo de comunicação que está compartilhando essa notícia. Precisamos ter plena consciência de que informação é elemento ideológico e que propagar informações incompletas / distorcidas / pautadas somente em achismos e preconceitos nunca trás nada de bom. Somos bibliotecários/as, portanto, temos que arrasar na verificação de fontes de informação.
Outro teste de atenção: notaram que eu falei fanpage e não perfil da biblioteca? Quando vocês forem criar uma conta para biblioteca de vocês em mídias sociais sempre fiquem atentos ao tipo de presença que vocês podem construir.
No caso do Facebook, por mais tentadora que seja a ideia de criar um perfil, o melhor, sem sombra de dúvidas, é criar uma fanpage. Através dela você pode criar um calendário de eventos pra sua biblioteca, fazer transmissões ao vivo de eventos, informar formas de contato, ser avaliado pelos usuários, criar promoções e sorteios e muitas outras opções. Dependendo das atividades oferecidas pela biblioteca, criar grupos no Facebook para agrupar usuários específicos também pode ser ótimo.
No caso do Twitter independente de ser uma pessoa ou instituição, o formato da sua timeline será o mesmo. Isso também vale para o Pinterest que é uma mídia social que recomendo fortemente para as bibliotecas que atendem públicos das áreas de Arquitetura, Design, Publicidade e afins. Divulgar o dia-a-dia da biblioteca usando o Instagram tem sido uma prática cada vez mais comum, especialmente em bibliotecas públicas. No Brasil, um dos exemplos mais interessantes – tanto de programação, quanto de uso do Instagram – é o perfil da Biblioteca Mário de Andrade.
Independente da mídia que sua biblioteca adote é importante observar alguns pontos:
1 – Relevância da mídia para sua comunidade de usuários. Você não precisa marcar presença em todas as mídias sociais que sua comunidade utiliza, mas observe onde eles estão para definir qual mídia a biblioteca vai adotar;
2 – Atualização periódica dos perfis da biblioteca. Não adianta ter uma fanpage e postar uma vez na vida outra na morte. É preciso postar e acompanhar as postagens de perto. Se você só tem condições de manter, com qualidade, um perfil não crie dois;
3 – Interaja com seus usuários. Pelo amor de Dewey responda as perguntas e comentários. E se um conteúdo da biblioteca for compartilhado em outro perfil, acompanhe a repercussão dele lá também;
4 – Produção de conteúdo. Eu sei que é difícil, mas esforce-se para criar conteúdo para as mídias da biblioteca. Escreva, fotografe, filme, edite, enfim, construa seu próprio material. Compartilhar conteúdo de terceiros pode até ser a base das suas postagens, mas tente criar algo seu, mesmo que seja simples;
5 – Identifique os tipos de conteúdo favoritos da sua comunidade e invista neles. Tente identificar assuntos, formatos, tipo de linguagem e etc que mais agradam seu público e foque nisso. Estou falando para focar e não para restringir a isso. Por mais especializada que seja uma comunidade postagens mais leves e gerais também devem ter espaço;
6 – Por fim, crie orientações que devem ser seguidas por todos que forem administrar as mídias sociais da biblioteca. Isso é importante para alinhar o conteúdo e padronizar posturas.

Mural disponibilizado em uma escola dos EUA com dicas sobre uso seguro das mídias sociais, netiqueta e etc. Fonte: Denise Borck
Um último aspecto que quero abordar neste texto é a atuação que a biblioteca pode desenvolver no que se refere a ajudar seus usuários a fazerem um melhor uso das mídias sociais. Apesar de muitos de nossos usuários serem nativos digitais é sempre importante alertá-los acerca da importância de checar fontes, ficar atento a privacidade na web, respeitar os direitos autorais e outras questões. É comum as pessoas acharem que as mídias sociais são terra sem lei, mas as coisas não são bem assim. Acredito que nós, bibliotecários/as, podemos contribuir para que o uso das mídias sociais adquira um novo significado para os usuários das nossas bibliotecas.
Não é uma tarefa fácil, pois levantar debates em torno do uso consciente (e civilizado) das mídias sociais é pedir para ouvir acusações de que “o mundo tá ficando chato” e/ou “pra quê tanto mimimi?” Como se respeitar a dignidade alheia fosse um estorvo 😦 Entretanto, esse é um debate cada vez mais urgente e as bibliotecas podem sim contribuir bastante para ele.
É sempre bom ter em mente que por maior que seja sua experiência com mídias sociais, administrar um perfil institucional (de uma biblioteca) requer mais do que saber postar fotografias do seu almoço 😉 É sempre importante pesquisar e estudar sobre o tema. Para os interessados deixo uma pequena lista de recomendações logo abaixo.
Para conhecer+
O que é fact-checking? [Animação da Agência Pública explicando o que é fact-checking e a sua importância. Particularmente, acho essa questão a cara da Biblioteconomia, afinal uma das atribuições da nossa área é avaliar fontes de informação]
Porque postamos: antropologia das mídias sociais [Curso online gratuito oferecido pela University College London (UCL). Amei a abordagem e variedade de contextos analisados. O curso está disponível em vários idiomas, incluindo o português. Recomendo!]
Diretrizes para utilização das mídias sociais pelo Sistema de Bibliotecas da UFC [Quando eu integrava a Comissão de Serviços, trabalhei, juntamente com outros colegas, na elaboração dessas diretrizes. É um documento simples, mas pode inspirar iniciativas semelhantes].
Your social media “likes” expose more than you think [TED sobre como os algoritmos de mídias sociais funcionam hoje e como eles poderiam ser melhorados. Legendas em português].
Declaração sobre a Liberdade de Expressão e Notícias Falsas, Desinformação e Propaganda [Declaração, em inglês, divulgada pela ONG Artigo 19 e pelo Centre for Law and Democracy com recomendações sobre como Estados, empresas de tecnologia e meios de comunicação devem responder a crescente influência que as notícias falsas têm exercido no âmbito digital].
Obrigada pela companhia neste textão (ufa!) e nos vemos em futuras postagens. 🙂
Pingback: As bibliotecas estão no Instagram and I think that’s beautiful | Estante de Bibliotecária
AMO mídias sociais e acredito demais no potencial da internet. A gente pode se ligar aos usuários de forma incrível, além de compartilhar informações que transformar e ajudam de fato. Realmente é bom saber alguns macetes pra ter o máximo proveito, mas quando você pega a manha pode alcançar ótimos resultados para
a biblioteca.
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