RANGANATHAN, Shiyali Ramamrita. As cinco leis da Biblioteconomia. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 2009.

Capa da edição brasileira de “As cinco leis da Biblioteconomia”

Clássico. Esse é o primeiro adjetivo que me vem a mente quando penso no livro “As cinco leis da Biblioteconomia”, de Ranganathan. Esse adjetivo é logo precedido por outros, como: indispensável, basilar, amplo e contemporâneo. Poucas obras mantiveram seu nível de relevância com o passar dos anos como esse livro.

Um dos motivos da manutenção da importância do trabalho de Ranganathan é a contribuição dele para estruturação da Biblioteconomia como área do conhecimento. Muito da Biblioteconomia praticada atualmente se deve as cinco leis elaboradas por Ranganathan e tão bem expostas nesse livro.

1 – Os livros são para o uso

2 – A cada leitor seu livro

3 – A cada livro seu leitor

4 – Poupe o tempo do leitor

5 – A biblioteca é um organismo em crescimento.

S. R. Ranganathan

Apesar de está dividido em capítulos esse livro não segue o estilo que, normalmente, é adotado nos livros que norteiam a área. Ranganathan tinha um visão muito clara de como as cinco leis poderiam fazer a diferença no modo como a Biblioteconomia atuava e se esforçou para reunir dados que mostrassem a influência que as então recentes – a primeira edição do livro data de 1931 – cinco leis já estavam exercendo. Além disso, o autor cita poetas, sábios e cria personagens e diálogos a fim de demonstrar de modo mais simples a relevância da adoção de certas atitudes para o desenvolvimento das bibliotecas.

O que mais gosto no livro é a amplitude com que Ranganathan apresneta e explora as leis da Biblioteconomia. Ele demonstra como tanto pequenas  e rotineiras ações realizadas na biblioteca quanto altos investimentos financeiros e a reestruturação de políticas são importantes para que as cinco leis ajudem a biblioteca a atender com qualidade todas as parcelas da população.

Os anos de 1931 (1ª edição) e 1963 (2ª edição) podem parecer distantes e fazer com que alguns duvidem da relevância do trabalho do senhor Shiyali Ramamrita Ranganathan. Caso você esteja nesse grupo, saiba que pesquisadores do mundo todo continuam se debruçando sobre as cinco leis a fim de buscar inspiração para desenvolver o pensamento e as práticas bibliotecárias. Exemplo disso é o documento “Reordering Ranganathan: shifting user behaviors, shifting priorities” que pode ser traduzido como “Reordenando Ranganathan: mudança no comportamento dos usuários, mudança de prioridades”. Nele Lynn Silipigni Connaway e Ixchel Faniel buscam pensar as cinco leis no contexto atual e mostram todo vigor do pensamento de Ranganathan. Recomendo a leitura desse documento, disponível somente em inglês, como um complemento, um olhar atualizado do pensamento do bibliotecário indiano.

O fato do trabalho de Ranganathan ter influenciado a tantos mostra que buscar ideias e soluções apenas no eixo Estados Unidos – Europa é um erro. O legado de Ranganathan vai muito além das cinco leis da Biblioteconomia, mas sem sombra de dúvidas são elas que mais podem contribuir, hoje e sempre, para o desenvolvimento da área.

Desde que ingressei na Biblioteconomia já me deparei com o trabalho de Ranganathan diversas vezes e minha admiração por ele só cresce. De uma maneira única e simples ele conseguiu mostrar qual deve ser o norte da nossa profissão. (Re)ler sua obra permite, ao mesmo tempo, constatar o quanto avançamos e o quanto ainda precisamos percorrer. É um convite (irrecusável) ao questionamento e a tentativa de construir uma Biblioteconomia melhor, uma Biblioteconomia que exerça influência positiva e transformadora na sociedade a que deve servir.