Livro digital e bibliotecas – Resenha

SERRA, Liliana Giusti. Livro digital e bibliotecas. Rio de Janeiro: FGV, 2014.

Capa da obra "Livro digital e bibliotecas"

Capa da obra “Livro digital e bibliotecas”

Quando eu ainda estava na graduação em Biblioteconomia uma das primeiras discussões com as quais me deparei foi acerca do crescimento dos livros digitais e a adoção desses materais pelas bibliotecas. Na época eu ainda era uma “purista-romântica-apaixonada-pelo-impresso” que não entendia como as pessoas podiam preferir o digital ao impresso. Como elas podiam não amar o livro?!?!?!?!?! Sim, eu já fui esse tipo de pessoa.

Mas e hoje?

Hoje eu sou alguém que estudou e expandiu muito a compreensão que tem do que seja um livro e que gosta deles pela informação que eles armazenam e ajudam a transmitir e não pelo formato que apresentam. Hoje eu sou a bibliotecária que já perdeu as contas do número de vezes que teve que elencar pros alunos as vantagens dos TCC defendidos na universidade serem disponibilizados em formato digital e não impresso.

Mas também sou a bibliotecária que não conhecia quase nada sobre as práticas e a nada fácil relação entre bibliotecas e editoras de livros digitais. Foi quando esbarrei na obra “Livro digital e bibliotecas”, da Liliana Giusti Serra. E antes de mais nada, adianto que essa é uma obra muito bem vinda, pois ainda carecemos de literatura em língua portuguesa sobre o tema.

Liliana Serra escreve um texto simples, direto e didático sobre o tema. Ela dedica cada capítulo para explicar um pouco dos principais aspectos envolvidos no processo de adoção de livros digitais pelas bibliotecas. A partir da leitura do livro fica evidente que, infelizmente, para a maioria das bibliotecas os entraves para adoção de ebooks ainda é proporcional as vantagens oferecidas por esse formato. Por exemplo, vocês sabiam que existem editoras que se recusam a vender determinados títulos no formato digital para bibliotecas porque acham que isso irá impactar negativamente em suas vendas?

Atualmente, existem cinco possibilidades das bibliotecas “adquirirem” e passarem oferecer livros digitais em seus acervos, mas todas as cinco apresentam dificuldades – principalmente econômicas e tecnológicas – que inviabilizem que a maioria das bibliotecas se quer cogite a possibilidade de adquirir esses materiais. No livro em questão a autora descreve cada um desses modelos de aquisição, apresentando vantagens e desvantagens de cada um deles.

SUMÁRIO – “LIVRO DIGITAL E BIBLIOTECAS” – SUMÁRIO

Prefácio

Bibliotecas do futuro e o foco no usuário

Inclusão de livros digitais em bibliotecas: uma discussão necessária

Impacto dos livros digitais em bibliotecas e o modelo de assinaturas de publicações

Desmaterialização do livro

Sobre livros e músicas no formato digital

Empréstimo digital: como atender editores, bibliotecas e usuários: estudo sobre novos modelos de negócios

Competência em informação e gestão de livros digitais

Empréstimo de livros digitais e a privacidade dos usuários

Outro ponto que a autora discute é o fato de que “adquirir” uma obra em formato eletrônico pode não ter o mesmo sentido que adquirir essa mesma obra no formato impresso. Quando uma biblioteca compra um livro impresso, aquele livro passa a ser da instituição, torna-se patrimônio da mesma. Quando se adquire um livro eletrônico através de assinatura por exemplo, em negociações futuras para renovação do contrato, por uma série de fatores, um título importante pode ser retirado da lista de assinaturas da biblioteca e, de repente, a instituição pode se vê sem uma obra importante em seu acervo.

E ainda tem a questão dos direitos digitais e da privacidade em relação aos dados dos usuários das bibliotecas. No tocante aos direitos digitais e formas de acesso a livros digitais as editoras tem mostrado postura tão conservadora quanto as gravadoras mostraram diante do advento do mp3 – e eu me pergunto se isso não será a ruína delas – ou seja, buscam ter o máximo de controle sobre quem acessa os livros eletrônicos por elas fornecidos – uma das formas de fazer isso é usando o Digital Rights Management (DRM) –  e isso é um problema, pois uma das funções básicas das bibliotecas é proporcionar acesso a informação. Esse controle que as editoras querem exercer tem criado alguns dilemas morais e éticos para os bibliotecários. Dilemas esses que tem sido agravados por denúncias de que editoras e plataformas de livros digitais estariam espionando e coletando indevidamente dados pessoais dos usuários das bibliotecas que, a fim de acessar os livros digitais ofertados pela instituição, precisariam fazer login para navegar nas plataformas das empresas.

Enfim, o que o livro da Liliane deixa claro é que livros eletrônicos oferecem muitas possibilidades, mas dentro do contexto existente essas possibilidades acabam sendo diluídas e que ainda estamos um tanto longe de encontrar uma solução tanto para os impasses que citei como para outros que vocês podem conferir lendo o trabalho dela. Particularmente, além de ter aprendido algumas coisas sobre o tema, após concluir a leitura desse livro reforçou-se minha impressão de que as dificuldades envolvidas no processo de incorporação da livros digitais aos acervos das bibliotecas vem do fato de que:

1 – Insiste-se em encarar o digital sob a ótica do analógico;

2 – Esse cabo de guerra está sendo travado entre grupos com forças muito desiguais e se não conseguirmos mudar as coisas, perderemos… e muito.

+info

Entrevista da Liliana Giusti Serra sobre o livro.

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