Coleção Bibliofilia: notas de leitura

Adquiri os livros na Coleção Bibliofilia durante a III Feira do Livro da Unesp. A princípio ia comprar apenas uma das obras, pois o comentário de um colega bibliotecário – do Jorge do Prado, mais especificamente – havia me deixado curiosa sobre o livro A sabedoria do bibliotecário. Mas sabe como é feira do livro, você chega na banca (virtual) da editora para comprar uma coisa e quando pisca já está com o carrinho cheio. Foi justo isso que aconteceu nesse caso.

Descrição: Fotografia colorida exibindo as capas dos livros da Coleção Bibliofilia. As capas possuem como plano de fundo sequências de seus respectivos títulos e autores. Há desenhos abstratos por cima desse plano de fundo. Fonte da imagem: Edições Sesc.

Os livros chegaram bem rápido e fui lendo os três ao longo dos últimos meses. Meu plano original era fazer uma resenha para cada um deles, mas acabei optando por falar de todos em uma única postagem porque, embora com objetivos e até estilos um tanto diferentes, as obras se complementam e a combinação de seus conteúdos lança focos de luz sobre diferentes aspectos do universo dos livros.

O que é um livro, de João Adolfo Hansen

Essa obra começa tentando responder uma pergunta aparentemente simples, mas cuja resposta é cheia de camadas. Para isso, o crítico literário e historiador da literatura brasileira, João Adolfo Hansen nos apresenta um livro com um único capítulo, mas que possui três “partes” ou momentos de discussão.

Inicialmente, são discutidas as muitas perspectivas sob as quais um livro pode ser enxergado e também as mudanças de interpretação que esse elemento encarou ao longo do tempo. Em um segundo momento, é apresentada uma síntese da história dos suportes e formatos já adotados pelo livro (especialmente na antiguidade e idade média). Nessa parte, quero destacar as curiosidades que autor insere entre a síntese histórica.

A terceira parte é a mais extensa e com discussão um pouco mais complexa. Nela o autor trata do livro se constituindo enquanto tal através do processo de leitura. Destaque para o debate sobre leitoras(es) traduzindo informação como paráfrase ou como hiperinterpretação. Nesse momento do livro, um dos trechos que grifei foi: “O leitor é sempre uma parcialidade parcial” (p. 53).

Da argila à nuvem: uma história dos catálogos de livros (II milênio – século XXI), de Yann Sordet

Não estava tão empolgada para essa leitura, tanto é que dos livros da coleção foi o último que li (sim, eu li as obras “fora de ordem), mas amei! O autor, que é formado em arquivística e paleografia e dirige a mais antiga biblioteca pública da França: a Biblioteca Mazarine, apresenta uma ótima síntese da origem e desenvolvimento dos catálogos de livros.

Yann Sordet trata não apenas dos catálogos de bibliotecas, mas também daqueles elaborados por livreiros e consegue mostrar como esse importante instrumento de representação e divulgação dos acervos foi se adaptando a cada contexto. O texto é acessível e tem seu conteúdo complementado por fotografias coloridas.

A sabedoria do bibliotecário, de Michel Melot

Esse livro é uma homenagem à profissão de bibliotecária(o). Nele, dentre outras coisas, o autor discute o papel da(o) bibliotecária(o) enquanto mediadora, organizadora, selecionadora de obras, fala-se da incompletude da biblioteca e de como é essa incompletude uma de suas mais importantes características, do livro como um elemento da indústria cultural e das diferenças entre práticas das bibliotecas latinas (francesas) e das anglo-saxônicas.

Melot escreve tudo de um jeito muito bonito. Tem certo lirismo na sua fala, mas esse lirismo não deixa o texto pedante. Os temas debatidos são atuais e muito pertinentes ao trabalho / reflexão da Biblioteconomia, e eles são apresentados numa linguagem que convida a reflexão calma e até a contemplação. Isso chega a ser irônico diante do período acelerado em que vivemos.

Para concluir, além do conteúdo de qualidade, quero destacar o charme do projeto gráfico dessa coleção. Os livros são pequenos – do tamanho “de bolso” – e tem um aspecto artesanal na encadernação. Embora o foco das obras não seja a área de Biblioteconomia, diante da carência editorial de obras impressas que a área enfrenta, achei um bônus ter livros caprichados sobre temas que tem tudo a ver com a gente.

+INFO

Se você ficou curiosa sobre a coleção, vale conferir o texto Apaixonados por livros publicado pelo Sesc e que traz mais informações sobre as obras e também entrevistas com organizadores e autores.

Usou esta postagem? Então, faça a referência:

SANTOS, Izabel Lima dos. Coleção Bibliofilia: notas de leitura. In: SANTOS, Izabel Lima dos. Estante de Bibliotecária. Fortaleza, 11 set. 2021. Disponível em: https://estantedebibliotecaria.com/2021/09/11/colecao-bibliofilia-notas-de-leitura/. Acesso em: dia mês ano.

2 respostas em “Coleção Bibliofilia: notas de leitura

  1. Não conhecia essa coleção! É muito bom quando você começa a ler de forma despretensiosa e o livro faz com que você se empolgue e seja uma boa experiência de leitura. Fiquei com vontade de conhecer 🙂

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Comentários

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