#Resenha – Políticas do Design

PATER, Ruben. Políticas do Design: um guia (não tão) global de comunicação visual. Tradução: Antônio Xerxenesky. São Paulo: Ubu, 2020.

A edição de agosto de 2023 da newsletter Prateleira falou sobre comunicação, especialmente, comunicação institucional. Nos processos de comunicação um ponto sempre presente é o design. Comecei a ler e pesquisar sobre esse assunto quando fui em busca de informações sobre elaboração de materiais instrucionais¹ e, de lá pra cá, minha busca tem me levado a lugares muito interessantes. Um desses lugares é o livro Políticas do Design, do Ruben Pater.

Publicado no Brasil em edição de bolso, a estrutura da obra pode ser definida como caótica numa primeira folheada. Porém, esse aparente caos é um excelente jeito de demonstrar como as questões associadas ao design são multidirecionais e, tanto refletem, quanto impactam, várias esferas da vida cotidiana.

O autor expõe e discute desde o subtítulo da obra como muito do que nós entendemos enquanto design de qualidade é enviesado e pauta-se em suposições equivocadas e/ou preconceituosas sobre a maior parte dos grupos sociais que formam a humanidade.

Descrição: Figura com fundo simulando papel amassado. Na esquerda aparece a citação: “Reconhecer que a comunicação não é neutra põe tudo em perspectiva e nos ajuda a entender por que a comunicação fracassa com tanta frequência : ela depende da bagagem cultural de cada um.” Na direita aparece a capa do livro resenhado. A capa possui fundo preto e nela aparecem o título da obra, escrito em azul, e o desenho de uma representação alternativa dos continentes. | Créditos da imagem: Izabel Lima.

Ele parte de explicações básicas sobre alfabetos, cores e formas para demonstrar como escrita, tradução, tipografia, desenvolvimento de marca, construção de aplicativos, elaboração de materiais de divulgação, dentre outras muitas questões relacionadas ao design, não são, em hipótese alguma, algo natural, imparcial e/ou neutro. Pelo contrário, há uma série de contextos históricos, sociais e culturais que precisam ser considerados ao realizar essas atividades e ignorá-los pode inviabilizar a comunicação.

Alguns dos exemplos citados no livro, como o The Pink & Blue Project, de Jeongmee Yoon, eu já conhecia. Mas muitos outros, como o projeto New Ways of Photographing The New Masai, de Jan Hoek Mike, e o trabalho do estúdio Butterfly Works, foram novidade para mim. Aliás, esses trabalhos são ótimas inspirações para pensar representação e representatividade. Ainda sobre representatividade, um conceito que é discutido no livro é o de “capitalismo racial“, da Nancy Leong. Adianto que a perspectiva trazida por esse conceito tem tudo a ver com comunicação institucional.

O livro tem 191 páginas, incluindo a lista de referências, ou seja, é curtinho. Seu conteúdo está dividido em 5 seções. São elas: Linguagem e Tipografia, Cor e Contraste, Imagem e Fotografia, Símbolos e Ícones e Infografismo. A leitura flui muito bem e não há necessidade de ler o conteúdo na ordem ou de modo integral para tirar proveito do livro, mas penso que a combinação das discussões apresentadas a cada seção é uma ótima introdução para reflexões e práticas mais diversas e ricas sobre design.

Notas

¹ Se você não tem familiaridade com o termo ou com o tema “material instrucional” e nem como ele se relaciona com as bibliotecas, sugiro a leitura dos artigos, ambos de minha autoria, Elaborando material instrucional em bibliotecas universitárias: uma proposta multidisciplinar (2018) e Elaboração de materiais instrucionais: elo entre informação especializada e educação de usuários (2020).

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SANTOS, Izabel Lima dos. #Resenha – Políticas do Design. In: SANTOS, Izabel Lima dos. Estante de Bibliotecária. Fortaleza, 18 outubro 2023. Disponível em: https://estantedebibliotecaria.com/2023/10/17/resenha-politicas-do-design/. Acesso em: dia mês ano.

2 respostas em “#Resenha – Políticas do Design

  1. Quero ler esse livro há um tempinho. Recomendaram-mo em um chat gringo, justamente para repensar design de uma forma menos racista, colonialista etc. É reconfortante saber que uma pessoa do Brasil o achou interessante, assim fico mais confiante de comprá-lo sem medo de ser apenas um americano repetindo o óbvio hahaha. Ótima resenha.

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