FANNI, Maryam; FLOODMARK, Matilda; KAAMAN, Sara (Org.). Inimigas Naturais dos Livros: uma história conturbada das mulheres na impressão e na tipografia. Tradução: Stephanie Borges. São Paulo: Clube do Livro do Design, 2022.

Inimigas Naturais dos Livros é o título provocativo e debochado de um livro que surgiu da vontade que suas organizadoras tinham de mapear a história da profissão de designer gráfica. O foco da obra são os contextos da Europa e dos Estados Unidos e as organizadoras tiveram como ponto de partida um outro livro, esse publicado em 1937, denominado Bookmaking on the Distaff Side (A produção de livros pelo lado não masculino).

No livro publicado em 1937 reuniram-se textos que buscavam, dentre outras coisas, analisar o papel que as mulheres tinham desempenhado até então na indústria gráfica. Foi após (se) encontrarem com esse livro-experimento que as organizadoras de Inimigas Naturais dos Livros começaram a se perguntar como seria uma versão atualizada de Bookmaking on the Distaff Side. Após refletirem sobre o tema, elas reuniram:

[…] uma seleção de textos sobre o que aconteceu entre 1937 (quando Bookmaking on the Distaff Side foi publicado) e hoje (2020). Queremos compreender algumas das coondições materiais das nossas precursoras. O que editar (juntas) significava para mulheres, como engajamento na luta por direitos e em termos de sustento? Este livro reúne esse tipo de perspectiva sobre gênero e edição. (p. 30).

Assim sendo, Inimigas Naturais dos Livros nasceu com textos que apresentavam e contextualizavam a importância da obra e do trabalho de parte das profissionais envolvidas na produção de Bookmaking on the Distaff Side. Há também um capítulo relatando a importância das gráficas feministas londrinas para o movimento feminista e para o movimento de trabalhadores como um todo. Há ainda um capítulo dedicado a relação, algumas vezes conflituosa, entre tipógrafas e tipógrafos no contexto de lutas por melhores condições de trabalho. Na parte final do livro, constam trechos de conversas com mulheres que atuam / atuaram no cenário da tipografia, design gráfico e mercado editorial.

O livro é organizado de modo a permitir que os textos de Inimigas Naturais dos Livros sejam intercalados com fac-símiles e, quando necessário, com as traduções desses fac-símiles, de textos que integravam Bookmaking on the Distaff Side. Dentre eles destaco o texto Are women the natural enemies of books?, de Anne Lyon Haight, que serviu de inspiração para nomear a obra aqui resenhada. Nesse texto, a autora discorre sobre a fascinante e muitas vezes apagada história das mulheres com a bibliofilia.

Talvez, a princípio, Inimigas Naturais dos Livros seja tida como uma leitura pouco relacionada com a Biblioteconmia, porém conhecer os trajetos, questionamentos e disputas enfrentadas pelas mulheres no contexto tipográfico agrega a área. Conhecer as histórias das profissionais que se dedicaram ao livro enriquece nossas práticas e epistemologias, assim como, enquanto categoria profissional majoritariamente composta por mulheres aqui no Brasil, podemos tirar importantes lições da trajetória de luta profissional das tipógrafas.

Quero fechar esse texto destacando a menção feita em Inimigas Naturais dos Livros ao texto de Ruth Shepard Granniss publicado em Bookmaking on the Distaff Side. Ruth era bibliotecária e publicou um trabalho, elaborado a partir de significativo levantamento bibliográfico, sobre a história das mulheres na impressão. Quando li essa menção, fiquei curiosa para saber o que minha colega de profissão escreveu. Quem sabe um dia conseguimos traduzir o texto dela para o português.

Inimigas Naturais dos Livros é um livro pequeno (foi publicado no formato pocket / de bolso), mas de conteúdo riquissímo e cuja leitura flui bem e nos dá muito o que pensar.

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SANTOS, Izabel Lima dos. #Resenha – Inimigas Naturais dos Livros. In: SANTOS, Izabel Lima dos. Estante de Bibliotecária. Fortaleza, 04 novembro 2022. Disponível em: https://estantedebibliotecaria.com/2022/10/28/resenha-inimigas-naturais-dos-livros/. Acesso em: dia mês ano.