A biblioteca mais incrível que já visitei

Faz um tempinho que estou tentando decidir para onde vou viajar nas minhas férias. Porém, independente de pra onde eu viaje é muito provável que vá encontrar, ao menos, uma biblioteca para visitar. Porque essa é uma das coisas que faço em toda viagem: visito bibliotecas.

Nem sempre essa experiência é agradável. Muitas vezes me deparo com situações de abandono, como a enfrentada pela Biblioteca Municipal de Olinda, a terceira mais antiga do Brasil e que fica num prédio que, apesar do descaso, ostenta charme ou a reforma mais que arrastada da Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, aqui em Fortaleza. Outras vezes vou a lugares encantadores como a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, mas apesar de ter adorado a visita a Biblioteca Brasiliana não é o tema dessa postagem.

Eu, mais baby do que sou hoje, visitando a BBM.

Eu, mais baby do que sou hoje, visitando a BBM.

Hoje vou falar sobre a biblioteca mais encantadora que já visitei. Essa visita aconteceu mais de 15 anos atrás, numa época em que eu não fazia a menor ideia de que me tornaria bibliotecária.

Quando eu tinha uns 7 ou 8 anos mudei de escola. E quando cheguei lá me deparei com uma sala pequena, escura, abafada e com uma série de livros empilhados e espremidos para caberem nela. Essa foi a primeira “biblioteca” que vi na vida. Qualquer semelhança com o cenário problematizado no livro Miséria da biblioteca escolar não é mera coincidência. Mas então, um dia, fecharam essa sala lotada de livros e um tempo depois começou uma obra numa das laterais da escola. Quando voltamos das férias (acho que eu estava na 3ª série) a professora nos disse que teríamos uma atividade diferente na disciplina de língua portuguesa: nós iríamos na biblioteca da escola, às segundas, ler.

E lá fomos nós. Em fila indiana, meus colegas e eu atravessamos o pátio rumo a lateral recém reformada da escola, pois era lá que ficava nosso destino. Sempre que penso nessa minha primeira visita a, então recém inaugurada, biblioteca da escola lembro da iluminação e brisa deliciosas que entravam pelas janelas, das mesas e cadeiras brancas, novinhas em folha, da lousa onde a professora – sim, professora. Porque o poder público costuma ser reticente e muquirana no momento de contratar bibliotecários – que cuidava da biblioteca havia colado, cuidadosamente, coloridas letras de E.V.A que formavam um simpático “Sejam bem vindos!”

Essa visita inicial foi a primeira de muitas e todos adorávamos. Em todas elas, havia uma série de mãozinhas levantadas, ansiosas por serem escolhidas para responder perguntas da professora, lembro de crianças concentradas e perguntando “tia, o que significa isso?” e apontavam pra palavra no livro. Mas lembro, sobretudo, que foi nessa biblioteca onde li pela primeira vez um livro escrito por uma brasileira, era “Bom dia, todas as cores”, da Ruth Rocha. Lembro que foi nessa biblioteca onde a professora empilhou dezenas de livros e disse para mim e meus colegas: “Hoje vocês podem escolher o que vão ler”. Vocês conseguem entender a grandiosidade disso? Eu, uma garota pobre que morava numa casa alugada de dois cômodos com meus pais, EU PODIA ESCOLHER. Lembro que foi nessa biblioteca, depois que mudaram as regras de acesso ao acervo, que andei entre estantes de livros pela primeira vez e peguei meu primeiro livro emprestado: “Andira”, de Rachel de Queiroz.

E por que resolvi escrever tudo isso? Porque tenho certeza que assim como essa biblioteca escolar fez diferença na minha vida de estudante-leitora-cidadã bibliotecas parecidas com ela podem fazer a diferença na vida de muitos outros alunos de escola pública. Faltam apenas 5 anos para o término do prazo estabelecido pela Lei 12.244/2010 para implementação de bibliotecas em todas as instituições de ensino do país e não estamos nem perto de começar a atender minimamente a ansiedade de milhares de crianças… Crianças que anseiam por livros, conhecimento e ESCOLHAS…

2 respostas em “A biblioteca mais incrível que já visitei

  1. Que bom que gostou, Mônica.
    Gostei de saber que você é uma recordista da leitura 🙂
    Bibliotecas escolares têm um valor imenso para agregar a educação básica e esse papel tem sido ignorado. Temos que contar nossas histórias não só como forma de memória, mas como forma de cobrar investimentos nesse espaço educacional tão importante.

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  2. Que texto lindo Izabel me fez lembra do meu primeiro contato com a biblioteca da minha escola!
    E assim como você ela também fez a diferença na minha vida, pois foi nela que obtive meu primeiro record como leitora 🙂 Li durante um ano eu acho 48 livros e ganhei como prêmio o Livro do Peter Pan todo em auto relevo Liiiiindo! E de lá pra cá não parei mais!

    Você tem toda razão o tempo esta se esgotando e estamos longe de atender as necessidades de tantas crianças que são muito parecidas como eu e você e que veem na biblioteca da escola o primeiro passo para descobrir novos mundos!

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