Quando se fala em concurso para bibliotecário quem conhece um pouco da história da Biblioteconomia lembra logo de Manuel Bastos Tigre que é considerado o primeiro bibliotecário concursado no Brasil. Ele conseguiu isso ao defender uma tese sobre a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e por meio dela obter o cargo de bibliotecário do Museu Nacional.
Entretanto, antes do curso de Biblioteconomia existir no Brasil, obviamente, já existiam bibliotecas no país e já existiam pessoas, em geral eruditos, que as administravam. Mas como eles eram escolhidos? Bem, normalmente eram indicados por alguém. Esse foi o caso do Ramiz Galvão cuja trajetória brilhante a frente da Biblioteca Nacional (BN) já foi contada aqui no blog. E foi justo durante a gestão dele que foi realizada a primeira seleção visando escolher alguém para ocupar o cargo de “bibliotecário”.
Essa seleção foi realizada pela Biblioteca Nacional e, assim como as seguintes, ficou conhecida pelo rigor. Por isso ter o resultado das suas provas – sim, colegas: os candidatos realizavam mais de uma prova – descritos pelo então diretor da biblioteca como magistrais é um feito digno de nota. E esse feito foi atingido pelo historiador cearense Capistrano de Abreu.
João Capistrano Honório de Abreu, nascido em Maranguape no dia 23 de outubro de 1853 e falecido no Rio de Janeiro em 13 de agosto de 1927, concorreu ao cargo com outros três candidatos e, assim como eles, se submeteu a provas de história, geografia, literatura, filosofia, tradução de textos em inglês, francês, latim e ainda teve testados “seus conhecimentos arquivísticos e bibliográficos a partir do exercício de classificação de um livro impresso, uma estampa e um manuscrito da biblioteca” (CALDEIRA, 2009, p. 46).
Capistrano de Abreu participou da seleção para BN em 1879 e ao obter nota máxima foi aprovado para exercer o cargo de “oficial”, cujas atribuições eram correspondentes as de bibliotecário. Importante lembrar que nessa época o curso de Biblioteconomia ainda não existia no país o que torna compreensível que profissionais de outras áreas assumissem esse posto.
Capistrano desempenhou a função de bibliotecário na BN durante 4 anos,no período de 1879 a 1883. Foi durante esse período que ele teve a oportunidade de “[…] lidar com livros raros, a ler o que só aí se encontra, a lidar com documentos, aprendendo a lê-los e a interpretá-los convenientemente” (IGLESIAS, 2000, p. 118). Esse trabalho contribuiu significativamente para a formação dele enquanto historiador. Infelizmente, são poucas as informações sobre as atividades específicas desempenhadas por Capistrano durante seu período na BN, o certo é que ele a considerava uma das “usinas de ideias” do Brasil daquele período.
A passagem de Capistrano pela BN encerra-se em 1883, quando, após aproavação em concurso público, deixa o cargo de oficial da biblioteca para ser professor de corografia e história do Brasil no Imperial Colégio D. Pedro II.
REFERÊNCIAS
CALDEIRA, Ana Paula Sampaio. A Biblioteca Nacional nos tempos de Ramiz Galvão (1870- 1882). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2009.
IGLESIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Belo Horizonte: UFMG, 2000.
+Info
Nos dois artigos a seguir vocês encontram mais informações sobre a trajetória do Capistrano de Abreu e a importância do trabalho dele pra história brasileira.
BEIER, José Rogério. Capistrano de Abreu e seus Capítulos de História Colonial. 2012. Disponível em: https://goo.gl/NB0iwu Acesso em: 17/07/2015.
GONTIJO, Rebeca. Capistrano de Abreu, viajante. Rev. Bras. Hist., São Paulo , v. 30, n. 59, p. 15-36, Jun. 2010. Disponível em: http://goo.gl/mqSDPK Acesso em: 17/07/2015.
No Portal Domínio Público é possível fazer download de obras do Capistrano de Abreu: http://goo.gl/thAXGB
Muito bom!
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Que bom que você curte as postagens, Nadsa!
Obrigada pela visita 🙂
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Muito grata pelos posts de história também!
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